Estoque: vilão ou aliado?

Estoque: vilão ou aliado?

Estoque

Há consenso nos livros de Finanças que a empresa deve ter o mínimo de estoque possível, afinal estoque é dinheiro parado, e dinheiro parado o melhor lugar para ele, é em uma aplicação financeira, rendendo juros. Mas será que este conceito ainda á valido?

Eu mesmo já prestei consultoria, onde eu realizar o diagnóstico identifiquei que a empresa tinha valores elevados de estoques, exigindo assim mais capital de giro, inclusive auxiliei a empresa em cálculos matemáticos em como dimensionar o tamanho dos seus estoques, definindo assim qual seria o estoque mínimo que deveria ser mantido.

Essa era principal dúvida dos empresários, qual estoque mínimo a ser mantido de cada produto? E a resposta não é simples, depende do histórico de venda do produto, do prazo de entrega do fornecedor e do grau de confiabilidade do fornecedor.

Foi aí que o jogo mudou após a pandemia Covid -19. Com a pandemia os prazos de entregas foram estendidos e toda a cadeia de suprimentos passou a ser menos “confiável”, ou seja, aquele fornecedor que nunca atrasa, passou a atrasar.

Aquele produto que você encomendava e recebia em 5 dias, agora o fornecedor lhe pede 10 dias para entregar, e as vezes entrega com 3 ou 4 dias de atraso, mas não porque ele é negligente, mas sim porque os fornecedores deles também estão atrasando.

Devido a prazos maiores de entregas, falta de mercadoria e atraso nas entregas, a maior parte das empresas teve que rever sua política de estocagem, e aumentar seus níveis de estoque.

Sabe aqueles que sempre foram criticados por possuírem estoques elevados, por não fazer a gestão de forma correta? Estes, após a pandemia, foram os mais beneficiados, sabe porquê? Enquanto outros estavam com falta de produto, ficando por vezes com sua empresa parada, estes continuaram operando, foram os últimos a ficar sem produto.

Junto com a pandemia, também veio a inflação, quem tinha estoque elevado, aumentou seu patrimônio, pois o estoque se valorizou.

Há, mas então o negócio é ter o máximo de estoque possível? Depende, se você possui um caixa apertado, paga juros, descontos títulos, você precisa ter um estoque justinho, você deve identificar qual o mínimo de estoque possível de forma a não comprometer a sua operação e ao mesmo tempo manter caixa saudável.

Agora, se sua empresa está estabilizada, suas contas estão em dia, você não desconta títulos, não vejo problemas você ter um estoque maior.

A ideia de ter o mínimo de estoque possível para diminuir a necessidade de capital de giro é um conceito estritamente financeiro, do ponto de vista comercial, quanto mais estoque a empresa tem, mais rápido ela consegue atender seu cliente, mais satisfeito ele tende a ficar. Qual venda é mais fácil de ser realizada, aquela onde você diz que se o cliente fechar negócio você entrega na hora, ou se você dizer que entrega em 7 dias? Com certeza na hora, o prazo curto será um diferencial de venda.

Os gerentes e responsáveis pela produção também prezam por estoques maiores, pois não querem ver a produção interrompida por falta de produto.

Conforme já dito, os tempos são outros, após a pandemia o tempo mudou, antes os prazos de entregas eram menores, e os fornecedores na maior parte cumpriam os prazos, além disso, a inflação estava sob controle. Agora, em 2021, temos prazos maiores de entrega, atraso, falta de produto, e ainda inflação dos preços, justificando até compras consideradas especulativas. Desta forma precisamos rever os conceitos tradicionais de gestão de estoque.

Resumindo: Estoque elevado é dinheiro parado, exige mais capital de giro ocupa espaço, sofre risco de avarias, se sua empresa tem pouco caixa, tenha o mínimo possível. Porém se você tem um caixa mais tranquilo, vê possibilidades de aumento nos preços e entende que estoque maior lhe dá um diferencial competitivo de agilidade no atendimento, tenha um estoque maior!

Tiago Farias Dias
Tiago Farias Dias
Sócio fundador da Imaginative Educação Empresarial. Professor universitário no curso de Administração na UNISC e na FACCAT. Possui graduação em Administração de Empresas pela FACCAT e mestrado profissional em administração de empresas pela UNISC.